Verdinhos

OS VERDINHOS

by Giovanni Pereira

First published in the UMA News Bulletin under the pen-name “Caramba” 

Comer um peixe grelhado numa esplanada de praia acompanhado de um verdinho bem fresco é um luxo que nenhum português dispensa quando, na época estival, goza o seu merecido descanso. 

The fine wines of Portugal are unfortunately mostly unknown abroad, with a few exceptions like Port and the popular rosés like Mateus and Lancer. Yet this rugged handsome country produces some of the most unique and diverse varieties of world class wines.

For one, from the northwest corner of Portugal, in the province of Minho, comes a very distinctive wine – vinho verde (green wine) – but they are ‘green’ only in the figurative sense for the wine derives its name from the ever verdant valleys of rich soil and abundant rainfall in a region which resembles a huge amphitheatre, the inland high ground forming a semi-circle facing west towards the Atlantic Ocean.

It is truly one of the most beautiful areas of Portugal, where every arable piece of land, no matter how small is neatly cultivated. The province of Minho embraces such towns like Braga, the religious capital of the country, Barcelos, Basto, Lima, Monção,…

The vinho verde vines are literally allowed to grow practically anywhere, like they did in Roman times, climbing trees, extending over trellises bordering fields and framed by ramadas or bowers covering paths and patios, creating oases of much appreciated shade in summer. In the fields the region’s vines stretch along wires from cordon posts and cruzetas, church-like crosses some six feet high. It is the height above ground which produces grapes that are lower in natural sugar but higher in malic acid – characteristics of unripe grape, thus producing light wines with low to moderate alcohol content, generally 8 to 11%, but still slightly acidic, after a second fermentation has converted the malic acid to lactic which is milder and more palatable.

The vinho verdes are most notably distinguished by retained carbon dioxide – giving the wine the famous fizz or sparkle that is its hallmark. Wine buffs call it pétillance, Portuguese wine-makers agulha.

There are many grape types used in the demarcated growing areas – the best known white grape variety being Alvarinho, mainly encountered in the Monção region, right up against the Spanish border, yielding a wine of lemony or straw colour and a bright and fragant bouquet, marvellously thirst quenching with its zest and crisp finish. It is however a wine best consumed ‘young’ within two years and is excellent with all types of shellfish, white meat and spicy food but remember always chilled. Goes well with Chinese food too.

Not many are aware that vinho verde can also be had as a red wine. The colour is in fact vermilion purple with a sharp and astrigent aroma. The red variety is actually more important locally but is very much an acquired taste. Grilled sardines make a compelling partner for vinho verde tinto, having a dense, oily flesh. Delectable especially when charred.

So if one is planning a picnic in the country park or going off to the beach on a hot day, pack a bottle or two of verdinho in your hamper. It won’t be a bad idea but a word of caution. Because of its slightly higher acid content, too much in the evening may lead to wild dreams for those prone to indigestion!

OS VERDINHOS

Giovanni Pereira

Publicado pela primeira vez no Boletim de Notícias da UMA sob o pseudónimo “Caramba”

Comer um peixe grelhado numa esplanada de praia acompanhado de um verdinho bem fresco é um luxo que nenhum português dispensa quando, na época estival, goza o seu merecido descanso.

Infelizmente, os vinhos finos de Portugal são, em grande parte, desconhecidos no estrangeiro, salvo algumas exceções, como o Porto e os populares rosés, como o Mateus e o Lancer. No entanto, este belo país acidentado produz algumas das mais singulares e diversificadas variedades de vinhos de classe mundial.

Por exemplo, do noroeste de Portugal, na província do Minho, provém um vinho muito distinto – o vinho verde – mas “verde” apenas no sentido figurado, pois o vinho deriva o seu nome dos vales sempre verdejantes de solo rico e chuvas abundantes numa região que se assemelha a um enorme anfiteatro, com as terras altas do interior a formarem um semicírculo virado a oeste, em direção ao Oceano Atlântico.

É verdadeiramente uma das mais belas regiões de Portugal, onde cada pedaço de terra arável, por mais pequeno que seja, é cuidadosamente cultivado. A província do Minho abrange cidades como Braga, a capital religiosa do país, Barcelos, Basto, Lima, Monção,…

As videiras de vinho verde podem crescer praticamente em qualquer lugar, como acontecia na época romana, trepando às árvores, estendendo-se sobre treliças que ladeiam os campos e emolduradas por ramadas ou caramanchões que cobrem caminhos e pátios, criando oásis de sombra muito apreciados no verão. Nos campos, as videiras da região estendem-se ao longo de arames presos a postes de cordão e cruzetas, cruzes semelhantes a igrejas com cerca de dois metros de altura. É a altura acima do solo que produz uvas com menor teor de açúcar natural, mas maior teor de ácido málico — características das uvas verdes —, produzindo assim vinhos leves com um teor alcoólico baixo a moderado, geralmente de 8 a 11%, mas ainda ligeiramente ácidos, após uma segunda fermentação converter o ácido málico em láctico, que é mais suave e saboroso.

Os vinhos verdes distinguem-se principalmente pelo dióxido de carbono retido, conferindo ao vinho a famosa efervescência ou brilho que é a sua marca. Os apreciadores de vinho chamam-lhe pétillance, a agulha dos produtores portugueses.

Existem muitos tipos de uva utilizados nas áreas de cultivo demarcadas – a casta branca mais conhecida é a Alvarinho, encontrada principalmente na região de Monção, junto à fronteira espanhola, produzindo um vinho de cor limão ou palha e um aroma brilhante e perfumado, que sacia maravilhosamente a sede com o seu sabor e final fresco. No entanto, é um vinho que se consome “jovem”, com menos de dois anos, e é excelente com todo o tipo de marisco, carnes brancas e comidas picantes, mas lembre-se sempre fresco. Combina bem com comida chinesa também.

Poucas pessoas sabem que o vinho verde também pode ser apreciado como vinho tinto. A cor é, na verdade, púrpura-avermelhada, com um aroma acentuado e adstringente. A variedade tinta é, na verdade, mais importante localmente, mas é um gosto muito adquirido. As sardinhas assadas são um acompanhamento atraente para o vinho verde tinto, com uma polpa densa e oleosa. Deliciosas, especialmente quando carbonizadas.

Por isso, se estiver a planear um piquenique no parque ou a ir para a praia num dia quente, leve uma ou duas garrafas de verde na cesta. Não será uma má ideia, mas sim um aviso. Devido ao seu teor de acidez ligeiramente mais elevado, beber muito à noite pode causar sonhos descontrolados para quem tem tendência para a indigestão!

 

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